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O HOMEM PERANTE A MORTE

O Homem perante a Morte

É desde antiguidade o medo da morte por parte do homem perante o enigma da morte; o homem desde sempre sê viu inconformado perante a morte tanto sua como a dos seus mais próximos.

 É na natural a morte no homem; mas em contrapartida nem todo homem sê revê perante a mesma. Ali surge a questão, porque? A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e, consequentemente, pelo medo daquilo que não se conhece, pois os que a experimentaram não tiveram chances de relatá-la aos que aqui ficaram. Todos esses atributos da morte desafiaram e desafiam as mais distintas culturas, as quais buscaram respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões, buscando assim pontes que tornassem compreensível o desconhecido a fim de remediar a angústia gerada pela morte.

A morte tem um papel de grande relevância nas sociedades. Para ilustrar tal afirmação Giacoia (2005) afirma que a maneira como uma sociedade se posiciona diante da morte e do morto tem um papel decisivo na constituição e na manutenção de sua própria identidade colectiva e, consequentemente, na formação de uma tradição cultural comum. Isso pode ser constatado nas culturas descritas a seguir.

A sociedade Mesopotâmica sepultava seus mortos com tamanho zelo que juntamente com o corpo eram postos vários pertences que marcavam a identidade pessoal e familiar do mesmo (roupas, objectos de uso pessoal e até mesmo a sua comida favorita), garantindo assim que nada lhe faltaria na travessia do mundo da vida para o mundo da morte, implantado no subterrâneo terrestre. Este rito objectivava a representação de morte que os mesopotâmios tinham, que era a de passagem. Já os gregos tinham como característica cultural nos seus ritos funerários a prática de cremar os corpos dos mortos, com o intuito de marcar a nova condição existencial destes, a condição social de mortos. Entretanto, havia dois tipos de mortos basicamente: os mortos comuns e anónimos e os heróis falecidos. Os primeiros eram cremados e enterrados colectivamente em valas, uma vez que eram vistos como simples mortais. Já o segundo tipo era levado à pira crematória, reservada para os grandes heróis, na cerimónia da bela morte, uma vez que nas representações dos gregos esse tipo de morte tornava imortal o morto. Esse tipo de simbolização da morte pode ser constatado na obra de Homero, denominada Ilíada, onde o autor aponta Aquiles como o melhor dos gregos em função de seus actos de bravura (GIACOIA, 2005).

A morte e as religiões

 

 Os hindus, como os gregos, tinham o costume de incinerar os corpos.

Entretanto, o sentido era completamente diferente, pois os gregos cremavam com o intuito das cinzas guardarem a memória dos mortos. Já os hindus cremavam o cadáver, o qual era despojado de sua identidade, personalidade e inserção social. Uma vez consumido pelo fogo, as cinzas eram lançadas ao vento ou nos rios.

Através deste ritual os hindus objectivavam a sua representação da morte que consistia na passagem para outro plano da existência: o fundir-se com o Absoluto, o acesso ao Eterno, ao Nirvana, ou seja, à paz originária.

Ao contrário dos gregos, para os hindus a grande personalidade não era o herói, nem o rei, mas sim aquele que fosse capaz de negar-se a si mesmo, despojando-se de seus traços individuais. Com isso, o indivíduo admirável para os hindus eram os ascetas, os monges, os quais despojavam-se a tal ponto de abrir mão dos dois mais poderosos mananciais da vida: o desejo de conservação e de reprodução. Estes não tinham os corpos cremados, mas eram enterrados em posição de meditação, em covas nos lugares sagrados, nos quais eram realizadas peregrinações e indicavam para os hindus que o verdadeiro sentido da vida era o despojamento do corpo, o que resultaria numa preparação para a morte gloriosa (GIACOIA, 2005).

Já para a civilização cristã e para boa parte dos judeus (aqueles que acreditam na ressurreição) a morte era vista como passagem para outra dimensão, a transposição ao eterno sofrimento e expiação (inferno), ou o acesso ao eterno gozo, reservado aos bem-aventurados (o paraíso).

A morte para os cristãos era um estágio intermediário, um sono profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a habitar os corpos. É devido a essa crença que os cristãos há muito tempo enterram os corpos dos defuntos com grande escrúpulo. “Essa ideia introduziu uma nova percepção e poupou gerações ao longo de séculos da ideia aterradora do fim definitivo” (FLECK, 2004, p. 1999 Apud

GIACOIA, 2005).

É evidente portanto, que embora esta atitude de não lidar com a morte não evita que esta o atinja, porém impede é que o homem crie meios de enfrentar e elaborar aquilo que é inevitável, pois tal como diz o ditado popular “a maior certeza que o homem pode ter é que um dia há de morrer”.